domingo, 11 de março de 2012

M,

Hoje eu resolvi sair correndo na chuva. Não sei se por loucura ou por tédio, se por raiva ou por aflição, se por amargura ou por cansaço. Fui aprendendo que a gente deve parar de pensar um pouco, por virtude do não enlouquecer. Concluí que, não enlouquecendo, estamos autorizados a cometer mais loucuras. Saí, trôpega e louca e sozinha na chuva. Porque precisava me manter sã subjugando a alucinação. As palavras bonitas que colei no espelho para ler quando acordasse estão borradas agora e todo o resto do mundo me parece mais nítido. Seco, palpável, real e nítido. Não que as minhas certezas tenham mudado: calma, meu querido, ainda sou a mesma e sempre serei. Ainda consigo encontrar beleza nas coisas e nas pessoas, só passei a desconfiar delas. Não conservo mais o utópico no topo da minha lista de prioridades, o equilíbrio já tomou o seu lugar. E a consciência, juíza da loucura e da lucidez, faz-se um presente e um escudo contra os desapontamentos do mundo. Corri, guiada pelo vento e tomada pelo frio, até um lugar em que tivesse a certeza absoluta de que estaria sozinha. Olhei para os meus pés, olhei para a noite. Roupa molhada, cabelos grudados na pele, mãos trêmulas. “Seja verdadeira com o mundo e ele será verdadeiro com você”, falava baixinho. A quantidade de pancadas recebidas veio aplaudir a maturidade e era ela que segurava a minha mão ali. Percebi que sou o centro das minhas decisões e é assim que deve ser. Suor, lágrimas, água de chuva. Estava sorrindo.



Sua, S.