segunda-feira, 22 de outubro de 2012

M,

O que é liberdade?

Entendo, desejo e repudio esse ser enigmático. Tudo ao mesmo tempo. Será que liberdade é o horizonte? É o céu? É um salto no escuro? Fico pensando no que a gente costuma encarar como prisão. Uma gaiola aberta é mais bonita que uma gaiola com um passarinho dentro. Mas os espaços de fora e de dentro só são diferentes por um minúsculo detalhe: alguns centímetros de grades. E o que vale mais? A segurança ou o vento batendo no rosto? Os problemas ali de dentro ou as imensas possibilidades contrárias de sorrir ou se machucar lá fora?

O problema é o medo. Medo de entrar na gaiola e nunca mais sair, medo de não entrar na gaiola e ela nunca mais se abrir pra você. Entre o aberto e o fechado, entre o dito e o não dito, a gente fica parado em frente à porta aberta, sem querer dar um passo pra frente nem virar as costas. Inércia. As gentes passarinhando em cima do muro, que, por sinal, foi criado por nós mesmos pra evitar uma invasão qualquer que nem sabemos se virá um dia. Ocupando as reticências com uma fileirinha de “se” que vai além do que a vista alcança, o tempo vai sendo gasto. E as asas também.

Acho que a liberdade aprisiona muitas vezes. O mundo é gigante, mas existe uma gaiola muito maior encarcerando tudo na enorme prisão de nós mesmos. Acho que não é preciso ter chaves, cadeados, correntes e barreiras. Não pro que se faz necessário voar. Meu conceito? Liberdade é mostrar a si mesmo sem ter medo de cair. Porque as asas estão gastas, mas elas existem.

Grades amedrontam porque tiram a possibilidade de tudo o mais. Todo o vir a ser é imensamente atrativo. Ao mesmo tempo, a queda é mais provável em ambientes desconhecidos. O trauma de cada tropeço vai enclausurando a gente dentro de si. E os passos pra trás deixam o horizonte ainda mais inatingível.

Por outro lado, até a maior das vontades de conhecer os lugares mais distantes do mundo é acompanhada pela saudade de casa a cada passo dado. Por mais que alguém se declare livre e amante dos ventos sem rumo, a terra acaba sendo necessária. Humanos olham janelas pensando no quão distante está o abraço desejado, a voz conhecida, o cheiro familiar. Pássaros pousam. Simples: eles não devem explicações.

A gaiola não precisa se fechar. O céu não precisa sair do alcance. Pássaro livre é aquele que não se priva da capacidade de voar e sabe o quanto é bom quando a terra chega. Felicidade é ter e usar de livre escolha. É alcançar essa terra sabendo que o céu está logo ali, palpável. E que as asas não estão gastas por silêncios. Não é à toa que os pássaros cantam.

Dia desses, ouvi de uma amiga: liberdade é quando te deixam voar dentro de uma gaiola maior que a sua original.


Guardo lembranças suas, aonde quer que eu voe. S.