segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

M,



Encontrei-o numa festa, quatro anos depois. Achei que sequer lembraria de mim. Sem demonstrar o mínimo de intimidação pelo fato de eu estar cercada de amigos, apareceu. Deu boa noite a todos, como um Verdadeiro Homem Feito, e pediu licença para me "roubar" cinco minutinhos.

Foi menos que isso. O tempo, suficiente para me fazer sentir o cheiro das vodkas que ele havia tomado, foi condensando vários anos de silêncio em pequenos blocos de solidez e solidão que se dissolviam no ar a cada palavra dita. Pediu perdão. Por mais que eu dissesse que não me sentia importante o suficiente para desculpar ninguém (somos todos um infindável acúmulo de erros), fez questão de ouvir as palavras de mim. Hoje, eu estava bem com aquilo.

Ok, já que insiste, eu te desculpo por nunca ter olhado pra mim enquanto eu olhava pra você. Pronto? Satisfeito? Passou, passou.

De fato, havia passado. Era passado. Eu o observava com o mesmo olhar (fotográfico? talvez) que só dedico aos que já roubaram meu coração algum dia. Os olhos ainda eram de menino. A barba contradizia o jovem espírito que havia me arrebatado anos antes. Estava lindo, talvez mais lindo hoje do que quando o conheci, naquele dia de abraços rápidos, palavras curtas e planos longos. Me deu um abraço apertado e desesperado, como quem tenta recuperar todos os anos desperdiçados pelo medo.

Desculpa.
Já disse que te desculpo. Não se preocupa.

O tempo não parou. Não flutuei. Os amigos olhavam, fazendo piadinhas. Pouco importava. Para mim, não havia mais nada. Encerrei a conversa, o coração pedindo desculpas em voz sussurrada, porém tranquila.

Expliquei o motivo. Estava ocupada olhando para outra pessoa que não olha para mim.


S.