sábado, 18 de maio de 2013

M,

Escrevo pra te dizer que o menor dos movimentos pode mudar qualquer convicção. No costumeiro esforço de se proteger do mundo de fora, a gente esquece que nem sempre consegue mandar no mundo aqui de dentro. E as mudanças nem sempre precisam partir da gente: às vezes o papel que nos cabe é o de receber a vida de braços abertos. Quando os sonhos cansam de bruxulear ao nosso redor nas noites mal dormidas e resolvem encarar a vertigem de uma queda livre cujo único rumo é a realidade, a gente sorri um sorriso cor de mar.

Mesmo que os tempos silenciosos tenham sido tão longos quanto uma frase sem vírgula, a vontade de cantar nunca foi embora. E eu cantava baixinho, num sussurro de quem cuida do que nunca deve morrer. Numa dessas, você descobre que cada nota merece ser tocada como o primeiro pingo de cada chuva. Porque toda chuva tem a nuvem certa pra nascer. É com cuidado que a gente reinventa acontecimentos, dobra realidades, multiplica papéis e pluraliza singulares.

A percepção minuciosa de ser uma pequena engrenagem numa cadeia de causas e consequências faz a gente funcionar em prol do outro e de si. É quando você olha pra cima e não consegue controlar a vontade de voar, é quando a noite te presenteia com um ímpeto de coragem, é quando um conjunto de sons recupera uma infinidade de memórias, é quando todas as lágrimas parecem ter um sentido, afinal. E felicidade não avisa quando chega, sabe? Faz parte daquela mágica das descobertas tranquilas: aquilo me é especial.

Há quem diga que o essencial é invisível aos olhos.
Descobri agora: felicidade é um abraço.

Sua, S.