Imagine ter a capacidade de congelar 365 momentos em
caixinhas. Você abre uma delas e, por alguns instantes, consegue ser
transportado para aquele espaço-tempo-sensação que já passou. Ótimo, não é? Mas
imagina só essa leveza sendo renovada todos os dias. Os momentos congelados não
perdem a beleza, mas saber que o instante seguinte sempre pode ser mais
interessante faz com que a gente se sinta vivo.
Ainda na perspectiva de recapturar memórias, acho que o
número 365 seria ideal por guardar o bom (para nos deixar felizes) e o ruim
(para nos deixar maduros) em um ciclo que equivale a um ano. Talvez um ano seja
o tempo em que a gente percebe o que mudou em termos práticos, pois não está
nem tão distante a ponto de perder a nitidez nem tão perto a ponto de se tornar
imperceptível. Em um ano, consigo ver quem foi embora e quem eu quero que fique.
Ambos pra sempre. Palavra pesada, eu sei. Afinal, quem tem o controle da
eternidade? Mesmo assim, algumas palavras merecem o peso que a gente dá pra
elas. Usar de eufemismos pode não ser a solução mais sábia, às vezes a vida
pede intensidade.
Por sinal, a minha receita particular de felicidade fala: quem
sabe misturar leveza e intensidade em doses alternadas é capaz de multiplicar os
melhores sorrisos. Mas sou suspeita pra falar. Tenho tido surtos de um
otimismo inabalável, que se manifesta feito canção em beira de praia. É o que tenho
guardado em todas as minhas caixinhas.
Sua sempre, S.