terça-feira, 26 de julho de 2011

M,

Algumas coisas ficam mais difíceis durante a madrugada. Talvez devido ao exagerado silêncio dos objetos ou àquela luz pálida da lua, os passos dados em horas altas parecem vir de uma cena em câmera-lenta. O tempo escapa das mãos e escorre por ampulhetas disformes. Enquanto reflexões fluem olhando o trânsito de uma janela e estabelecendo uma calmaria quase meditativa, existe um redemoinho dentro de cada um de nós que ataca com mais violência em tempos silenciosos. Humanos, tigres que somos, fingimos estar no olho do furacão. Falsamente inabaláveis. Falei em tigres porque ninguém pode ser tão nobre quanto um felino ferido e acuado. Escrevo, agora, movida por um estágio de percepção que fica mais aguçado durante a madrugada, talvez porque os outros sentidos – aqueles que nos fazem responder “tudo bem” quando nos perguntam “como vai você?” – fiquem guardados no dia que passou. Se a madrugada é cruel por tornar isso tudo possível, é justamente essa pretensa crueldade que faz dela tão bonita. Ela revigora memórias e burla insensibilidades. De tanto conhecer você, sei o que deve estar pensando agora. E concordo: eu também queria que fosse fácil.


Sua, S.

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