sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

M,

Ainda acredito nos papéis amarelados. Aqueles, que se guardam em gavetas e que se enchem de poeira e de tempo. Aqueles, comparáveis às flores murchas, guardiãs de páginas de livros. Eis o que um deles me diz:



Triste, triste
Por tudo o que ainda existe
Por tudo o que já (se) partiu
Desapontamento latente,
Por tudo o que nela reside
Por tudo o que nunca houve
Pelo que nunca foi meu
Palavra que não diz nada
Silêncio que oculta o possível
Choro que conta fraquezas
Mão que contrai um afago
Flores jogadas num lago
Atos que negam perdão
E então o futuro escondido
E então o abraço partido
Os filmes nunca vistos
Músicas nunca cantadas
Valsas nunca dançadas
Cartas nunca escritas
Ela, que nunca foi vista
Ele, que nunca enxergou
Eles, enganos recíprocos
Dançando, assim, sem canções
Culpados, não há, que fazer
Nada saiu dos olhares
Tudo ocultou-se nos bares
Pondo-se os pés pelas mãos
Foi só o momento perdido
Um só que vai aumentando
Os dias, em si, consumindo
E o só, de si, se bastando
Porque nunca quis lhe salvar.


Qualquer palavra depois dessa última quebra o encanto.
Despeço-me por aqui.
Beijos, S.

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