Bem que você me dizia pra gente nunca esperar nada de nada. Sabe quando você faz uma contagem regressiva pra uma coisa qualquer que você nem sabe o que é? E aí o zero chega e, obviamente, nada acontece? O que surpreende a gente é o impreciso. Em qualquer escala dos números negativos, quando a contagem já parou e você não se preocupa com mais nada, acontece. Pá. Um, dois, vinte, nada, tudo. De bandeja, assim, toma, lida com isso. A gente cambaleia, claro, sempre. Não tem graça se não tropeçar um pouco. Nada deve vir asséptico assim, como bandeja de comida de hospital. O tempero das coisas vem da improbabilidade. E aí o duelo acaba sendo entre os eus de nós mesmos. Entre o que é certo e o que se tem vontade, entre o que é socialmente aceitável e o que passa pelos nossos pensamentos em altas madrugadas.
Não acredito em satisfações que se dão aos outros. Nada justifica o impulso. Nada forçado funciona. Inútil recorrer às chorumelas de águas passadas e planos pro futuro. A gente não sabe se vai morrer amanhã. Posso arrumar as malas e sumir da vida de todo mundo que já conheci até hoje, posso arquitetar a construção de uma identidade diferente de tudo o que me representa. Posso mudar. De opiniões e de atitudes. E será que vou fazer falta? Impossível saber. Nem a gente se conhece direito, como prever a intensidade dos próprios atos em situações inesperadas?
Apesar de tudo, as nossas metas não mudam. O que diferencia o antes do agora é a maneira com que busco essas metas. Mordi a língua. Mas não a consciência. Sei do que conquistei e me sinto segura o suficiente pra abandonar uma série de aflições. Porque a dificuldade virou rotina e isso é bom, porque cada pequeno brilho só aparece quando se faz merecer. Reviro minhas gavetas e me dá vontade de doar todos os penduricalhos que enfeitam minha máscara. Imagino que outras pessoas devam querer usá-los. Só sei do que não me serve mais.
Uma noite dessas, o tempo me encontrou sentada na areia e me deu algumas memórias de presente. Coisas que já estavam perdidas e coisas que mereciam reviver. Vi três estrelas cadentes em poucos minutos, falei três palavras que me vieram à mente. Não eram pedidos. Me acostumei a não pedir mais nada. A resposta já estava na minha frente há muito tempo: o equilíbrio das coisas está na mistura de doçura com intensidade. Se não estou plena dos outros, estou plena de mim. Confio no que me convém e acho que a maior proteção do mundo quem me dá sou eu. Me dôo (de doar, não de doer) como quem pula de um precipício com a certeza de que vai voar. Acho que cresci.
Sua, S.
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