Mas vamos aos fatos: esse cara colecionava sorrisos. Não sei até que ponto ele modelava a lembrança e convertia dentes e bocas em algo concreto e colecionável. Só sei que ele tinha um domínio tão completo sobre os sorrisos que parecia manter cada um deles em uma pequena caixa de cristal exposta em prateleiras dentro da própria cabeça. Passou a fazer da vida uma caçada: conquistaria sorrisos como quem conquista um território desconhecido. A cada item novo, ele ficava mais feliz e mais bonito. Me disse assim, sem pretensão nenhuma, enquanto olhávamos um daqueles rastros de nuvem que os aviões deixam no céu: “Todo dia eu pego o sorriso de alguém, ponho em uma caixinha e guardo na minha coleção”. Nunca questionei seus métodos. Apenas perguntei se ele havia pensado no meu sorriso alguma vez, como um item digno de suas prateleiras preciosas.
Ele disse que o meu sorriso foi o primeiro da coleção.
Saudades,
S.
S.
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