quinta-feira, 21 de outubro de 2010

M,

Hoje acordei com uma pergunta dando voltas ao redor de mim. Ela sumiu em determinados momentos do meu dia, reapareceu em outros, morreu e ressuscitou de forma repentina, abrupta, quase agressiva. Eu estava perdida, envolvida por inúmeros papéis e livros e cheiros mofados de páginas velhas e aromas deliciosos de páginas novas e pensamentos que atrapalhavam minha tão necessária concentração. Confesso que ainda estou perdida. Ah, meu bem, quem dera se as coisas fossem límpidas como a gente gostaria que elas fossem. Descomplicação, clareza, objetividade, simplicidade. Não é essa a situação ideal? Você vive aquilo. Pronto. Por mais que não haja, assim, aquela subjetividade tão gostosa dos assuntos profundos e das sentimentalidades, há clareza. Um lago raso pode ser suficiente para matar a sede de vez em quando, quem sabe. Mas, nele, só é possível lavar os pés. No máximo, as mãos. É, eu lavo minhas mãos. Nada de mergulhos e cachoeiras e corpos molhados e rios caudalosos e alma lavada e banhos maravilhosos. Há um limite para a profundidade, assim como há limite para o prazer, assim como há limite para a subjetividade. Porque, se não houvesse limite, o medo seria infinitamente maior. Não haveria fundo do poço. O infinito dói, a possibilidade do “sempre” machuca. É por isso que ele sempre acaba. Melhor mesmo é que haja confiança e cumplicidade, mesmo que o lago seja raso. E que se mate a sede. Sempre. Mesmo em pequenos goles, mas que seja mútuo. Reciprocidade é a lei, mesmo que seja ínfimo o objeto da divisão. Que se tenha consciência dessa pequenez. Será que você me entenderia? Lembra que eu te falei que carregava uma pergunta comigo? E agora? Qual era a pergunta mesmo?


Sua,
S.

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